quarta-feira, maio 31

O homem de vermelho

Estava encostado á parede e deveria ter cerca de 30 anos, um pouco menos, um pouco mais. De colete, uma Tshirt vermelha que nunca deveria ter sido lavada e umas calças idênticas. Louro, cabelo curto e de pêra e bigode também aparados. Fiquei com a ideia que deveria ser inglês. Estava descalço e vestia um colete cinzento por cima da Tshirt. Aos pés uma mochila sebenta e ao seu lado um pequeno recipiente de plástico com água e um papel, serviam de mesa a um cão que dormitava indiferente a tudo e todos.
O homem fumava um cigarro com filtro e estendia a mão, onde jaziam algumas moedas de cêntimos.
Dantes eu diria que "titilintavam", agora nem isso fazem. Foi hoje o último dia para trocar as antigas notas de 20 escudos no Banco de Portugal. Quem é que se mexe, com este calor, para trocar uma bonita nota por 10 cêntimos? Eu não, prefiro ficar com a nota, ao menos serve-me como marcador de livros.

Entre nós, a rua por onde desfilavam mulheres jovens, cada vez mais bonitas, com decotes generosos e seios espantosos. A minha companhia disse-me que as mulheres andavam em feroz competição. Os homens escasseiam e elas têm que enfrentar uma concorrência cada vez maior. Enquanto trocávamos impressões, dois jovens nitidamente "gays" sentavam-se numa mesa ao lado.
- "Vês o que te disse? Olha o rapaz de azul, um autêntico desperdício."
Tive de concordar.
"Por isso, elas têm de exibir os seus dotes. É a concorrência, uma concorrência feroz", continuava ela.
"Bem, é assunto que não me preocupa, não me afecta", respondi afagando-lhe o braço.
"Também não é preciso estares a olhar."
"Não posso estar aqui de olhos fechados, como te poderia ver?"
"Desculpas, já te conheço."

Ao nosso lado, três francesas de exportação, daquelas para quem não valia sequer a pena olhar. Às tantas, uma delas, já "entradota", levantou-se e foi dar umas moedas e um bolo ao "homem de vermelho". Este mirou as moedas com ar de desprezo, meteu-as no bolso do colete e deitou o bolo para o papel que servia de prato ao cão, o qual continuou a dormir, ou a fingir que o fazia.
Tirou do mesmo bolso uma lata de cerveja, de que beberricou um pouco, enquanto passava um negro a quem julgo que pediu um cigarro, mas este nem se dignou olhar para ele.
Iniciou depois uma operação: cortou com um canivete parte do filtro dum cigarro, retirou-lhe o papel branco que o envolvia e voltou a meter nele o interior do filtro.

As miúdas continuavam a passar…

O homem resolveu comer metade do bolo do cão, que não protestou, preferiu continuar a dormitar. Depois comeu a outra metade, apanhou o recipiente de plástico, despejou a água, parte para cima do cão, pegou na mochila e foi-se embora.
Já quase ao virar da esquina o cão resolveu levantar-se e, com o rabo entre as pernas, seguiu o rasto do homem.
Deve ter pensado, se por acaso os cães pensam: "mais vale este que nada".

terça-feira, maio 30

G e s t i c u l a r ...













o g e s t o,
a m ã o,
m o v i m e n t o d o s
d e d o s,
q u e s e n ã o p e r d e m
e m i n u t i l i d a d e s.

O gesto é um pouco
como que as aves.
E s v o a ç a,
Traça linhas definidas
Em torno do infinito.
É como que...
se se perdesse,
não de perdendo.
É como ribeiro
Correndo, umas vezes
Lentamente, outras
Com rapidez.
É como um sonho,
umas vezes calmo
e outras agitado.

o g e s t o
pode dizer-te – se amor –
- se ódio –.

Os gestos são sem dúvida
O supremo rito da comunicabilidade.
Podem esconder em si
Todo o valor
Da linguagem que traduz
O princípio da verdade.

(Foto: L. Garcia)

Últimas, últimas!

Professores vão avaliar pais

O Azurara soube, junto de fontes fidedignas, da intenção governamental de avançar com um pacote legislativo no sentido da responsabilização dos pais pelo comportamento dos filhos na escola.
Ao que se sabe, os pais que venham a obter uma classificação inferior a Bom poderão ver diminuídos os montantes do Subsídio Familiar (antigo Abono de Família).

A Confederação dos Pais já deu conta da sua indignação, tendo considerado que os professores são incompetentes para fazerem essa avaliação, e reiterando que apenas os resultados do processo reflexivo inerente à auto-avaliação que cada pai faz do seu desempenho pode potenciar incrementos de qualidade no Sistema Educativo.

( http://azurara.blogspot.com )

Desculpa lá "BlueShell", mas não resisti à tentação de te "roubar" este artigo.
Fartei-me de rir.

segunda-feira, maio 29

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) surge no final da década de 1970, com a ocupação da fazenda Nonoai, no Rio Grande do Sul. Naquele momento, o governo estadual buscou reverter uma ocupação ilegal, para fins de reforma agrária, de terras de uma reserva indígena realizada nos anos 1960, para o que reassentou os índios e expulsou os camponeses de seu assentamento na localidade conhecida como Encruzilhada Natalino. Como reacção, os agricultores deslocados, espontaneamente, decidiram ocupar a vizinha Fazenda Nonoai. A partir daí, a sociedade local, a Comissão Pastoral da Terra, assim como o embrião do futuro Partido dos Trabalhadores passa a apoiar aquele grupo de camponeses que saem vitoriosos desta que seria a primeira ocupação, que deu origem ao MST. Em 1984 o Movimento passa a organizar-se de maneira nacional.

Uma das actividades do grupo consiste na ocupação de terras improdutivas como forma de pressão pela reforma agrária, mas também há reivindicação quanto a empréstimos e ajuda para que realmente possam produzir nessas terras. Para o MST, é muito importante que as famílias possam ter escolas próximas ao assentamento, de maneira que as crianças não precisem ir para a cidade e, desta forma, fixar as famílias no campo.”

OS POBRES POSSUIRÃO A TERRA

Pronunciamento de Bispos e Pastores Sinodais sobre a Terra

"A acelerada e violenta agressão ao meio ambiente e aos povos da terra revela a crise de um modelo de desenvolvimento alicerçado no mito do progresso que se resume nos resultados económicos e esquece as pessoas, sobretudo as mais pobres, e todas as demais formas de vida."

(25/05/2006)

Como em todos os Movimentos, há os bem e os mal intencionados. Não sei se o mesmo funciona como devia, talvez não funcione, ou talvez sejam os grandes proprietários a procurar lançar o descrédito.
Assim consta que, no seguimento de contestações semelhantes a esta, que se traduzem em filas intermináveis de automóveis, horas de espera (esta foi só de 2h) e demoradas conversações entre dirigentes do movimento e polícia, o Governo cede-lhes terras que muitos deles vendem de imediato, para logo partirem para novas manifestações, repetindo o ciclo.


A foto é a de um corte da estrada “Recife – Salinas do maragogi” realizado pelo MST. (foto de Peter)

domingo, maio 28

A vaca e o poema

O que é que a vaca tem a ver com o poema?

- Nada e tudo …




Falo-te de um país distante
falo-te do fundo de uma garganta…
onde o meu elevador de palavras se move

Sobe-me à boca energia eléctrica e picante
para esmagar cachos de uvas que a extingam

Falo-te desde um corpo de imensos mecanismos alegres
somente um modo de dizer que existo

Falo-te da noite de cujo xisto és o pau de giz
falo-te do convés de uma noite de fósforos rápidos
e a minha bagagem
é a própria viagem

Falo-te do interior de uma melancia
falo-te do papo de uma bactéria
e lá fora
surdamente
a realidade

Falo-te de um sonho relvado, vigoroso como um puxão de orelhas
arrasto-me pelos cabelos até à veiga acesa onde te posso falar
falo-te pelos dedos vidas a fio
com uma obstinação de martelo no prego em basalto forte
até ao último fósforo sacudir a tua figura no escuro

Falo-te de um país distante
falo-te de onde me faltas
com ervas baixas por fora
e por dentro
muito altas.

(Versos de A.M.F. e foto de Peter)

sábado, maio 27

Os segredos de enxames fósseis de galáxias

Uma equipa de astrónomos estudou o comportamento de enxames fósseis de galáxias, “tentando descobrir como estes tiveram tempo para se formarem”.
Muitas galáxias localizam-se em grupos, onde sofrem encontros próximos com as suas companheiras e interagem gravitacionalmente com a “matéria negra” que, como aqui temos escrito, é a massa que preenche o espaço intergaláctico e é designada assim por não emitir radiação, não se podendo detectar directamente.

Estas interacções fazem com que grandes galáxias se movam lentamente em espiral em direcção ao centro do grupo onde estão localizadas. Uma vez lá, podem fundir-se formando uma única galáxia central gigante, que progressivamente vai "engolindo" as suas vizinhas.
Quando não existem mais galáxias a juntarem-se ao grupo, a galáxia central gigante não terá mais companheiras para "capturar", e o resultado é um objecto designado por "grupo fóssil". Assim, quase todas as estrelas que outrora pertenciam a galáxias diferentes, estão agora contidas numa galáxia gigante.

Valores alucinantes sobre o grupo fóssil investigado e que, para mim, estão fora de toda a compreensão:

- denominado de RX J1416.4+2315, é dominado por uma única galáxia elíptica localizada a 1,5 mil milhões de anos-luz de distância. A sua luminosidade é 500 mil milhões de vezes superior à do Sol. As observações efectuadas revelaram que o grupo se encontra no interior de um halo de gás quente que se estende por mais de 3 milhões de anos-luz, até à temperatura de 50 milhões de graus. Uma temperatura assim tão elevada, (cerca do dobro do valor suposto), é normalmente característica de enxames de galáxias.



1 kpc = 1000 parsecs = 3259 anos luz (se levarmos em consideração que a velocidade de propagação desta é como sabemos de 300.000 kms/segundo …)

Outra característica interessante deste sistema é a sua grande massa que atinge mais de 300 biliões de massas solares. Apenas 2% desta massa é constituída por estrelas e 15% encontra-se sob a forma de gás quente. A “matéria negra” é a que mais contribui para a massa do sistema e a que o liga gravitacionalmente.

De acordo com cálculos efectuados, um enxame fóssil com tanta massa como o RX J1416.4+2315 “não teria tido tempo para se formar durante toda a idade do Universo”.
A solução para a formação deste tipo de grupos fósseis teria sido um processo a que os físicos chamam de "fricção dinâmica". Neste processo, as galáxias "caem" em direcção ao centro do enxame de uma forma assimétrica, perdendo a sua “energia orbital” para a “matéria negra” circundante e, consequentemente, “a formação do enxame pode levar muito menos tempo”, do que se orbitassem o referido centro.

(adaptado do último número do ASTRONOVAS – OAL)

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sexta-feira, maio 26

Vacas em Lisboa


Vaca e flores na Rua Augusta. Há vacas por toda a cidade, mas não dão leite.
Aliás, o que é que hoje em dia no nosso país dá "leite"?

(Foto de Peter)

quinta-feira, maio 25

Livres…

Era um velho,
Que tinha, tinha,
Nove lindos filhos,
Rebentos do seu corpo,

Não lhes ensinou
Ofício nenhum,

Apenas lhes ensinou
Por montes e vales a vaguear,
O veado a caçar.


Os bosques percorriam, eia, eia!
E os veados caçavam, eia!

Vaguearam tanto
E caçaram tanto,
Que, ao caçarem tanto,
Por pegadas de veado encantado
Uma linda ponte encontraram.

E no bosque profundo
Veados se tornaram.


Porém, o seu pai querido
Não aguentou a espera,
Pegou na sua espingarda,
E partiu à procura
Dos seus nove lindos filhos.

Na fonte fresca, viu os veados.
Dobrou o joelho,
Eia, fez pontaria num deles.
Ai, porém o mais velho
- Ai, o filho mais querido –
Ai, assim se lhe dirigiu:

Querido paizinho nosso,
Nunca faças pontaria em nós!
Se não, espetaremos
Os nossos chifres em ti
E atiraremos assim
Contigo, de prado para prado,
Contigo, de pedra para pedra,
Contigo, de monte para monte,


Meus queridos,

Voltem comigo para casa,
A vossa mãe querida está à espera!



Querido paizinho nosso,
Volta tranquilo para casa
Para a nossa mãezinha querida!
Porém, nós não vamos!



O nosso corpo esbelto
Capa já não aguenta,
Só folhagem aceita;
O nosso pé leve
Cinzas da lareira não pisa,
Só por fofas folhas secas trilha;
Doravante, a nossa boca
O copo nunca mais toca,
Só a fonte fresca a sacia




(Béla Bartók – Cantata profana, Sz 94
Os Nove Veados Encantados 1930;
excerto)

24 de Maio de 2006

Hoje andei vagueando sem rumo pelas ruas de Lisboa. Meti a digital no bolso e por aí errei sem destino, envolto nos meus pensamentos. Não sei o que é ser feliz, nem sei o que é a felicidade. Talvez uma borboleta colorida e fugídia, que se nos escapa, porque ela é tão frágil que quando a apanhamos acabamos por a destruir.
Nessa altura já nada há a fazer. Nos nossos dedos ficaram as cores das suas asas que desajeitadamente danificámos, impedindo-a de continuar o seu voo por entre as flores ali, no jardim do Campo Pequeno.
É um local de estranhas recordações: festa para uns, protesto para outros, sofrimento e morte, onde o bicho-homem se diverte com o animal, dando vazão aos seus instintos mais primitivos.
Mas nos jardins voam borboletas e nos bancos há pares de namorados, que olhamos com inveja duma mocidade perdida.

Depois, depois subi a Av da República, até ao Saldanha para a tradicional visita à FNAC, onde acabaria por comprar o último livro de Mia Couto. Mais um para a fila de espera ...

Foi então que o vi e a digital captou a imagem de um homem, incongruentemente deitado sobre a riqueza da CGD e profundamente adormecido. E eu invejei-o. Invejei a serenidade do seu rosto, invejei o abandono físico de quem se deita onde e quando lhe apetece fazê-lo, de quem não tem contas para dar a ninguém porque não finge aquilo que não é, porque não é Janus.



(Foto de Peter)

Muitas vezes me tenho interrogado se a cultura e o saber, porque são duas coisas bem distintas, serão compatíveis? Talvez aquele homem, de aspecto que se convencionou chamar de "miserável", por não seguir as normas certinhas dum formalismo convencional, não teria atingido a "paz de espírito" e a serenidade do seu rosto não fosse a de um poeta?

quarta-feira, maio 24

Histórias curtas

O Mundo gira dia a dia.
Noite a noite
nasce a Lua,
cobre-nos com o seu olhar
doce e melancólico.

Quem segue
nesta viagem mar dentro?

Monstro marinho,
dono das falésias dos meus sonhos,
leva-me ao trono do imperador.
Leva-me às orgias perfumadas
pelos corpos das princesas.

Abram-me a porta
dos doces oceanos.
Quero invadir
o palácio da loucura.

Deixa-me embalar-te
com doces melodias…
Já caiu a noite,
nasceram as sombras.

Apaga as luzes,
Fica na penumbra…
Vou contar-te um conto.
Histórias curtas.

Histórias curtas…
(Foto: Daniel Camacho)

terça-feira, maio 23

Despedida a Fernando Bizarro

Hoje a blogosfera ficou mais pobre: morreu Fernando Bizarro do blog "Fraternidade”.

Estive vendo as fotos do Jantar/Encontro da Irmandade Blogueira (28JAN06), mas como não tive o prazer de o ter conhecido pessoalmente, resolvi em sua homenagem e como recordação, deixar aqui um texto do seu blog:


"Vinte e dois meses na Blogosfera.

Hoje, 13 de Maio, tinha previsto começar a publicar um texto intitulado “Os três Pastorinhos” cuja introdução, cerca de 2 páginas A4, tenho praticamente pronta. Mas por razões exteriores à minha habitual força de vontade, obrigaram-me a adiar a apresentação da primeira parte do que eu pretendo transmitir, à guisa de um pequeno ensaio da minha concepção e interpretação daquela a que eu considero a estória lusitana mais bem arquitectada e conseguida do passado século XX.

As tais razões externas à minha vontade, também me obrigaram a estar ausente da blogosfera, repartindo o meu tempo entre a cama e o sofá...

Quando me sentir minimamente em condições, procurarei retomar o meu projecto, bem como a actividade normal de escriba na blogosfera.

Até lá, beijos e abraços para todos os meus Amigos/as.”

colocado por Fernando B. : 3:51 PM

Atenção...







Hoje cheguei só meia hora atrasado.
Se não tenho cuidado habituo-os mal e depois eu é que me “lincho”...
;))

Os "descartáveis"


Um livro aterrador e que faz pensar:

"Embora sempre tenha existido ferocidade social, esta tinha limites imperiosos, porque o trabalho resultante das vidas humanas era indispensável aos que detinham o poder. Já não o é; pelo contrário, tornou-se um estorvo. E esses limites desmoronam-se. Percebe-se o que isto significa? Nunca o conjunto da humanidade teve a sua sobrevivência tão ameaçada.
Qualquer que tenha sido a história da barbárie ao longo dos séculos, até hoje o conjunto dos seres humanos sempre beneficiou de uma garantia: ele era essencial ao funcionamento do planeta, como à produção, à exploração dos instrumentos do lucro, de que fazia parte.Todos estes elementos o preservavam.
Hoje, pela primeira vez, a massa humana já não é materialmente necessária, e menos ainda economicamente, ao reduzido número de pessoas que detêm o poder e para quem as vidas humanas que evoluem no exterior do seu círculo íntimo só têm interesse, OU MESMO EXISTÊNCIA* - apercebemo-nos disso a cada dia que passa - de um ponto de vista utilitário."

(O horror económico", Viviane Forrester)

* - Realçámos este aspecto.

segunda-feira, maio 22

Manobrando no espaço

Não resisti a publicar aqui esta foto espantosa e que eu já coloquei como fundo do ambiente de trabalho.



Que braço tem 17m de comprimento e, por vezes, utiliza seres humanos como dedos?
É o Candarm2, a bordo da ISS (Interncional Space Station).

Astronomy Picture of the day (http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod)

Alegoria da Gestão [no reino animal]

E porque não cá, neste “país à beira mal plantado”, mas que não tem sido “regado” convenientemente?

Entram e saem “jardineiros” e está cada vez pior …

“Todos os dias, a formiga chegava cedinho à oficina e desatava a trabalhar. Produzia e era feliz.
O gerente, o leão, estranhou que a formiga trabalhasse sem supervisão.
Se ela produzia tanto sem supervisão, melhor seria supervisionada ...E contratou uma barata, que tinha muita experiência como supervisora e fazia belíssimos relatórios.
A primeira preocupação da barata foi a de estabelecer um horário para entrada e saída da formiga.
De seguida, a barata precisou de uma secretária para a ajudar a preparar os relatórios e contratou uma aranha que além do mais, organizava os arquivos e controlava as ligações telefónicas.
O leão ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com índices de produção e análise de tendências, que eram mostrados em reuniões específicas para o efeito.
Foi então que a barata comprou um computador e uma impressora laser e admitiu a mosca para gerir o departamento de informática.
A formiga de produtiva e feliz, passou a lamentar -se com todo aquele universo de papéis e reuniões que lhe consumiam o tempo!
O leão concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga operária, trabalhava.
O cargo foi dado a uma cigarra, cuja primeira medida foi comprar uma carpete e uma cadeira ortopédica para o seu gabinete.
A nova gestora, a cigarra, precisou ainda de computador e de uma assistente (que trouxe do seu anterior emprego) para ajudá-la na preparação de um plano estratégico de optimização do trabalho e no controlo do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e cada dia se mostrava mais enfadada.
Foi nessa altura que a cigarra, convenceu o gerente, o leão, da necessidade de fazer um estudo climático do ambiente.
Ao considerar as disponibilidades, o leão deu-se conta de que a unidade em que a formiga trabalhava já não rendia como antes; e contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico e sugerisse soluções.
A coruja permaneceu três meses nos escritórios e fez um extenso relatório, em vários volumes que concluía: "há muita gente nesta empresa".

Adivinhem quem o leão começou por despedir?
A formiga, claro, porque «andava muito desmotivada e aborrecida».”

NOTA:

Esta já tem “barbas” mas é capaz de ser actual, numa altura em que tanto se fala de “produtividade”, “reorganização”, “reclassificação”, etc

sábado, maio 20

Um curto diálogo

"Para as mulheres uma relação sexual não é apenas só fazer sexo, mas fazer amor. E o amor é o domínio do coração, da poesia, do sonho, da imaginação e da paixão. "

Comentei a citação:

- Leva-se tempo a compreender uma coisa tão simples e, ao mesmo tempo, tão complicada.

E obtive como resposta:

- “Se tivesse que escolher só uma dessas palavras, escolheria paixão, porque para mim a paixão é o domínio do coração, da poesia, do sonho e da imaginação do amor…”

Estranha é a mente humana no seu vaguear. Não sei porque motivo, ou talvez saiba, recordei um texto de Analu, que tinha lido à tarde:

“não sei se é mais exacto o limite concavo do umbigo,
onde a gota da tua saliva se emulsiona,
reagindo-me,
se o sulco do rio fino de água que rasga dos olhos o lugar do corpo reflexo
- amplexo -
que se ajusta à tua retina,
em uníssono rumorejar dos teus meus pensamentos.

se me vês assim,
quando fechas os olhos,
reténs na fuga da palavra - eco

por dentro,
ardem-se-me os lábios quando não lhes sei dar a forma do teu nome.”

quinta-feira, maio 18

PDI (Porra Da Idade)


De acordo com os ecologistas e defensores do ambiente, todos nós que nascemos nos anos 60, 70 e princípio de 80 não devíamos ter sobrevivido até hoje,porque as nossas caminhas de bebé eram pintadas com cores bonitas em tinta á base de chumbo que nós muitas vezes lambíamos e mordíamos.

Não tínhamos frascos de medicamento com tampas "á prova de crianças" ou fechos nos armários e podíamos brincar com as panelas. Quando andávamos de bicicleta, não usávamos capacetes.

Quando éramos pequenos viajávamos em carros sem cintos e airbags - viajar á frente era um bónus. Bebíamos água da mangueira do jardim e não da garrafa e sabia bem.

Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos gasosa com açúcar, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora. Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos disso.

Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pelo monte abaixo, para só depois nos lembrarmos que nos tínhamos esquecido de montar uns travões. Depois de acabarmos num silvado, aprendíamos.

Saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo, desde que estivéssemos em casa antes do escurecer. Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso. Não tínhamos Play station, X Box. Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVD, Chat na Internet. Tínhamos amigos - se os quiséssemos encontrar íamos á rua.

Caíamos das árvores, cortávamo-nos, e até partíamos ossos, mas sempre sem processos em tribunal. Brigávamos, mas não éramos processados e batíamos ás portas dos vizinhos, fugíamos e tínhamos mesmo medo de ser apanhados.

Íamos a pé para casa dos amigos. Acreditem ou não íamos a pé para a escola; não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem. Criávamos jogos com paus e bolas. Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem, eles estavam do lado da lei. Esta geração produziu os melhores inventores e desenrascados de sempre. Os últimos 50 anos têm sido uma explosão de inovação e ideias novas. Tínhamos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade e aprendemos a lidar com tudo.

És um deles? Parabéns!

(recebido por Email, mas com adaptações)

quarta-feira, maio 17

Pérola Pública

Não resisto.
esta é uma pérola de um futuro director-geral... por certo











Importância: Alta

Na tarde de segunda-feira, a equipa de Serviços de Recolha de Papel, aquando da recolha de papel no átrio interno, levaram também 3 equipamentos que estavam no átrio.

Esses equipamentos estavam identificados com um POST-IT que indicava que se tratava de avarias e não de equipamentos abatidos, geralmente designado por “LIXO”.

Estes equipamentos eram compostos por dois PC’s e um monitor, no qual os pc’s eram para ser reparados pela empresa C, enquanto o monitor, ainda estava ao abrigo da Garantia da Marca.

Também não havia nenhuma solicitação do DI no sentido de se proceder ao levantamento dos equipamentos.

A falta desses mesmos equipamentos foi dada no final dessa mesma tarde, em que se procedeu à recolha indevida, devido aos técnicos do DI se encontrarem em Formação.

Estes equipamentos encontravam-se no exterior (átrio interno), porque iriam ser levantados pela Empresa C para que fossem reparados.

Nessa mesma final de tarde, pedimos informações ao Segurança, que nos informou que no torno dele não se tinha efectuado quais queres recolhas de papel, mas que iria saber se o seu colega que fez torno anterior tinha algum conhecimento do caso.

No dia seguinte pela manhã (terça-feira, pelas 9h00), o segurança informou ao DI que no torno anterior ao dele, tinham sido levados pela equipa de Serviços de Recolha de Papel, porque se encontravam no mesmo local onde estava o papel e porque também estavam identificados como avariados.

No entanto esse último facto não corresponde a realidade, visto que os equipamentos estavam no lado oposto ao lixo que era para ser levado.

Ao verificarmos que foi a equipa que procedeu ao levantamento dos equipamentos, o DI imediatamente ligou por volta das 9h30 para VFP, onde falou com a Chefe de S para proceder imediatamente à reposição dos mesmos equipamentos.

Desculpem os bolds mas...

terça-feira, maio 16

Rótulos

Não, não são os vulgares rótulos comerciais, são os que colocam às pessoas e que definem de imediato o seu estatuto, tornando-as cobiçadas, proscritas, ou reverenciadas.
Vou começar por estas últimas, por ser mais fácil:

- O Serapião da Silva que, convenhamos, tem um nome que não lembra ao diabo, por uma velha madrinha ter imposto a sua vontade aos pobres pais da criancinha, era conhecido familiarmente pelo "Pião", o que, como é óbvio, era motivo de gozo pelos colegas de escola.
A madrinha acabou por redimir-se, pagou-lhe os estudos e o Serapião acabou por se licenciar em Direito e empregar-se para aí num Banco.
Imediatamente mudou de nome: passou a ser o "Doutor" (aliás Portugal é um dos países onde este procedimento se verifica). Progrediu na carreira e hoje é o Dr Silva ( a utilização do apelido é também um atributo de "status").

Passemos aos outros:

- Li num blog que consta dos n/links ("Pedaços") um artigo a que já aqui me referi e de cujo contexto, retiro a seguinte frase:

- Se digo que alguém casado é bonito, ouço logo: «Olha que ele é casado». E eu respondo: «E depois? Não tem o direito de ser feliz?»

E assim surgem os outros rótulos que aplicam ao "A" e à "B":

"são amigos", "são muito amigos", "são namorados", "andam um com o outro" ... o que os/as coloca na situação de "cobiçados/as", ou de "proscritos/as"

Não se preocupem com o que eles são, ou deixam de ser. No fundo são pessoas. São apenas o “A” e a “B” que por aqui andam, que gostam de escrever e de comentar o que cada um escreve e o que os outros escrevem e que muitas vezes até nem se conhecem pessoalmente, o que não é impeditivo de entre eles se criar uma verdadeira amizade.

segunda-feira, maio 15

Mundo da Tribo


O som ecoa em batidas fortes, os corpos balançam sensuais, roçam-se eróticos na busca de encontros breves e intensos, ilusórios, efémeros.
E a tribo brada para além do espaço exíguo para o desejo emoldurado em aromas e cores e luzes alucinantes num ritual repetido e minimal.
Então, encostei o meu rosto no teu rosto, abracei-te o corpo suado num rodopiar vertiginoso em que nos perdemos, esquecendo que o mundo gira, ali, ao mesmo ritmo de outros sons,de outras vidas.

domingo, maio 14

Rosas


Publicamos este poema da Heloisa, nossa fiel leitora desde a primeira hora, que tem acompanhado toda a “série do Conversas de Xaxa” e por quem todos nutrimos um carinho muito especial.

ROSAS*!
Gosto de rosas
vermelhas
sanguíneas
vibrantes de paixão!

ROSAS*!
gosto de rosas
orvalhadas,
pingando de geadas
nocturnas
e, de alvoradas...
manhãs frias
que cortam os dedos
e ferem a Alma!

GOSTO DE ROSAS*!...
Daquelas do Teu jardim!
E, do meu jardim:
do caminho perdido
no fim da vereda,
daquele PRADO, ALI!!...

.........................

ROSAS*!...
Também gosto delas
BRANCAS
a clamar pureza
a lembrar infâncias
inocências,
esperanças!...

AH!....AS ESPERANÇAS E AS ROSAS!...

Terão alguma similaridade?
Serão binómio?...
Serão um "duo" uma "aliança"?...
ou, serão apenas,
pétalas roubadas às rosas:
_AS VERMELHAS, BRANCAS OU AMARELAS_...
ou aquelas,
da cor que minha (NOSSA)
imaginação quiser!?...

Uma qualquer cor:
Preta, por exemplo.
Sempre desejei ter uma
ROSA PRETA,
Por TI* ofertada
E, no meu jardim semeada
_ETERNA_/(SEM ESTAÇÃO);
Semeada por tua mão
Colhida e colocada, junto ao meu coração!...

............................

ROSAS*!
AH, AS ROSAS!...

Como gosto delas,
Brancas vermelhas ou AMARELAS!
_OU PRETAS_
da cor da minha SOLIDÃO!
ou SANGRANDO
de VERMELHO
como as Pétalas
sangrentas,
dolorosas,
violentas,
do TOM,
do peso,
do tamanho;
da medida, imedível,
da minha fremente
_OU GÉLIDA_?...
não orvalhada da PAIXÃO!!!

.....................

ROSAS*!

.....................

ROSAS*!
Gosto de ROSAS
VERMELHAS
SANGUÍNEAS
Debulhadas em PÉTALAS
NA PALMA DA MINHA MÃO
VIBRANTE DE EMOÇÃO!

OFEREÇO-TE ROSAS*
EM MAIO*
OU EM SETEMBRO
ATÉ, EM NOVEMBRO!

_GOSTO DE TODAS AS ROSAS_!

_GOSTO DAS ROSAS DO TEU JARDIM,
DAQUELAS,
VERMELHAS, BRANCAS OU AMARELAS...
E... COLHIDAS PARA MIM!

.................................

ROSAS*!
gosto de rosas
orvalhadas,
pingando de geadas
nocturnas
e de alvoradas...
manhãs frias
que cortam os dedos
e ferem a Alma!

.......................

****************Heloisa B.P.
escrito em Londres, 9 de Maio 2006*

(aqui e agora, para os que GOSTAM DE ROSAS!)

sábado, maio 13

Tenham vergonha ...

Telejornal da RTP 1 às 20h30:

"PCP quer que a regionalização avanÇe mais rapidamente."

Assim se escreve o Bom Português na estação oficial.

O homem que vende lenços de papel

Habituamo-nos, nesta cidade enorme, a cruzarmo-nos com certos tipos que se tornam senão como familiares, pelo menos como personagens característicos que se integram no nosso quotidiano.

Há já uns anos, três, quatro, que encontro no percurso Av João XXI – Praça do Areeiro, um indivíduo que tem todo o aspecto de ser ucraniano. Nunca lhe ouvi uma palavra, limita-se a mostrar umas embalagens de lenços de papel, que ninguém compra, pelo menos nunca vi ninguém comprar.

Sempre impecavelmente lavado, barbeado, cabelo tratado, vestindo roupas limpas e passadas a ferro: uma camisa e umas calças. Mete a um canto esses nojentos compatriotas nossos, que andam por aí, drogados que “deitaram a vida pela janela fora” e outros que tais.

Interrogo-me como consegue sobreviver. De início, arrastava um carrinho, com um barril de cerveja, possivelmente cheio de água que lhe devia servir para as suas abluções matinais, mais uns dois sacos de plástico. Agora já não. Deve ter arranjado onde viver pois nada traz consigo, apenas 6 pequenas embalagens.

Hoje lá estava ele, na Praça do Areeiro, oferecendo os seus pacotes de lenços que ninguém compra.

Senti-me tentado a abordá-lo, ao fim e ao cabo já é um velho conhecido…

sexta-feira, maio 12

Cobras

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo que só vivia para brilhar.
Ele fugia rápido com medo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir.
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada.
No terceiro dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:

- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente para ninguém mas já que te vou comer, podes perguntar.

- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?

- PORQUE NÃO SUPORTO VER-TE BRILHAR!!!

E é assim,

*Diariamente , tropeçamos em cobras!*

Quantas conheces ?

quinta-feira, maio 11

Três novos links

Lucia

negra tinta

Pedaços

Vale a pena passarem por lá.

O Mundo em Marcha Contra a Fome (21 de Maio)

A União dos Superiores Gerais decidiu juntar-se ao PAM (Programa Alimentar Mundial), à Cáritas Internacional, a várias Igrejas, organizações muçulmanas e ONGs neste dia de acção mundial.

Prevê-se que mais de um milhão de pessoas participem nesta “Marcha contra a fome”. A Finalidade é sensibilizar a opinião pública, recolher fundos para os programas que abordam o problema da fome infantil e apelar aos políticos para que se engajem no combate à pobreza. No ano passado, mais de 201.000 pessoas marcharam em 91 países e recolheram dinheiro suficiente para alimentar 70.000 alunos durante um ano.

Pode-se participar nesta marcha também doutra maneira:

Visitando o “sítio” http://www.fighthunger.org/gathering/home/2/PT . Visitando este “sítio” também poderemos ficar a saber onde se realizarão as marchas e qual a mais próxima da nossa comunidade. Encontraremos também, em várias línguas, explicação mais pormenorizada deste evento.

Em Portugal haverá marcha em Lisboa e no Porto. Para além disso, visitando o “sítio” mencionado, contribuiremos com uma doação de apoio de 19 cêntimos, o que é suficiente para uma refeição escolar em África. A visita a este “sítio” não significa apoio e reconhecimento desta empresa, mas simplesmente aproveitamento dos seus serviços pois ela ofereceu-se para apadrinhar esta campanha.
(do Fórum d’Acção n.º 43)

LUGARES DA MARCHA:

LISBOA, Portugal
21 May, 2006; 10:00 AM - 11:00 AM (local time)
Torre de Belém
Av. da Brasília

Percurso:
A prova de Marcha em Lisboa inicia-se na Torre de Belém e termina na Pala das Docas. A prova de Corrida em Lisboa inicia-se na Torre de Belém seguirá pela Av. Brasília até aos Viadutos de Alcântara, voltando à Torre de Belém para terminar na Pala das Docas. O percurso tem uma extensão de 10.000 metros para a Corrida e de 5.000 metros para a Marcha.

PORTO, Portugal
21 May, 2006; 3:59 PM - 3:59 PM
Rotunda da Boavista - frente à Estátua
Avenida da Boavista

Percurso:
Avenida da Boavista até ao Castelo do Queijo

"Levar faixas brancas com slogans contra a Pobreza no Mundo"

http://www.fighthunger.org/files/energy_sp.wmv

Vamos lá marchar contra a fome
sinto-me: bem

publicado por lyliaviolet às 13:16 (com pedido de publicação no n/blog)

Reflexão

Se 23% dos acidentes de trânsito são provocados pelo consumo de álcool,
significa que 77% dos acidentes são causados por pessoas que bebem água.

Perigosos, esses gajos...

Quando o Serviço Militar era obrigatório

Texto verídico, de um indivíduo que não queria ir à tropa:

Exmº Sr. Ministro da Defesa,

Venho deste modo explicar-lhe uma situação delicada que tem vindo a ocorrer, de maneira a poder obter um eventual apoio vindo de V.Exª:

Tenho 24 anos, e fui esta semana chamado para ir à tropa. Sou casado com uma viúva de 44 anos, mãe de uma jovem de 25 anos, da qual sou padrasto.
O meu pai, por seu lado, casou-se com essa jovem em questão.

Neste momento, o meu pai passou a ser o meu genro, uma vez que se casou com a minha filha.
Deste modo, a minha filha, ou chamemos-lhe enteada, passou a ser a minha madrasta, uma vez que é casada com o meu pai

A minha esposa e eu tivemos no mês passado um filho.
Esse filho tornou-se o irmão da mulher do meu pai, portanto o cunhado do meu pai, o que faz com que seja o meu tio, uma vez que é o irmão da minha madrasta. O meu filho é portanto o meu tio...

A mulher do meu pai teve no Natal um rapaz, que é ao mesmo tempo o meu irmão uma vez que ele é filho do meu pai, mas meu neto por ser o filho da minha enteada, filha da minha esposa. Desta maneira sou o irmão do meu neto !!...
E como o marido da mãe de uma pessoa é o pai da mesma, verifiquei que sou o pai da minha esposa, e o irmão do meu filho.

Resumindo: sou o meu avô !!!

Deste modo, Sr Ministro, peço-lhe que estude pacientemente o meu Caso, porque a lei não permite que o pai, o filho, e o neto sejam chamados à tropa na mesma altura.

Agradecendo antecipadamente a sua atenção, mando-lhe os meu melhores cumprimentos.

quarta-feira, maio 10

L´Amour Fou

Em Dezembro de 1983 a Photo fez sair um caderno especial, fechado, com imagens chocantes de uma rapariga literalmente comida por um rapaz japonês que estava apaixonado por ela.
Passaram muitos anos.
Na altura não se falava em net e muito menos em chats ou blogs. Nem pensar em msn, sms, etc.
As pessoas conheciam-se simplesmente na escola, na rua, num café ou numa festa. Enfim, havia tão e somente o contacto directo, olhos nos olhos.
Mesmo assim, sempre houve pessoas a comerem-se uma às outras, predadoras de afectos e sentimentos que, neste caso, como em outros, foram levados ao extremo da voragem.

Não vou colocar imagens. De facto são violentas e, além disso, motivaram a recolha da revista da qual eu serei um dos, talvez, poucos possuidores.

A voragem não se prende com o canibalismo apaixonado e surrealista de um jovem ignorado pela sua apaixonada.
A voragem de que falo tem a ver com a busca incessante do preenchimento de um vazio através de pequenos nadas que nos alimentam, apenas e só, o desejo de possuir o outro e transformá-lo em “meu”.
Quando na verdade não há “meu”. A condição de posse é uma ilusão que, como todas as ilusões, é efémera.

Falo-te de amor

Falo-te de amor enquanto
As minhas mãos te percorrem
E os sentidos se espraiam
Em ondas de verde
Para lá da Natureza
Adormecida...

Falo-te de amor enquanto
Os meus olhos se revestem
De uma esquecida pureza
E a minha alma
Te vê como te sinto
E me contento...

Falo-te de amor enquanto
O amor é nosso
Enquanto é tempo
E o sol de Verão vai alto.

O Inverno é perto
E eu falo-te de amor
Para espantar o frio.

(Rosa Teixeira Bastos, in "Horas")

terça-feira, maio 9

Violação de CP

Gustavo Castelo Branco é um Físico de Partículas, de 60 anos, com largo currículo internacional: doutoramento no City College em Nova Iorque, trabalho em Física das Altas Energias na Universidade de Bona e vinda para Portugal, onde exerce a sua actividade no Centro de Física Teórica de Partículas do IST, Centro esse que recebeu a classificação de “Excelente”, pelas mais altas autoridades mundiais da especialidade.

Já vencedor do prémio Gulbenkian de Ciência com o seu trabalho: “Violação de CP”, que publicou em livro na Oxford University Press, em 1999, escrito em colaboração com dois colegas investigadores: Luís Lavoura e João Silva, foi recentemente distinguido mundialmente com o prémio Humbolt da Ciência. Trata-se de um Prémio importantíssimo, em que há altíssima competição a nível mundial, e cujo processo de atribuição é idêntico ao do Nobel. Aliás, 17 distinguidos pelo Humboldt já foram galardoados com o Prémio Nobel.


Em tempos, possivelmente noutro blog, publiquei aqui um despretensioso “post” de divulgação, que passo a transcrever:

“Visto que nós existimos, o Universo teve de encontrar muito cedo um meio de quebrar a simetria matéria/antimatéria. Pensa-se que o terá feito 10^-32 segundos depois da “explosão” primordial, no final da fase inflaccionária, altura em que a energia do vazio deu origem às partículas e às antipartículas. A Natureza mostrou então ter uma pequeníssima preferência pela matéria: dispôs as coisas de modo a que houvesse, por cada mil milhões de antiquarks surgidos do vazio, mil milhões e mais um quarks. Diferença infíma, mas plena de consequências. Com efeito, mais tarde, por alturas do primeiro milionésimo de segundo, quando o Universo arrefeceu a dez biliões de graus – o suficiente para permitir aos quarks reunirem-se três a três, a fim de formarem neutrões e protões, e aos antiquarks formarem as suas partículas - , a grande maioria dos quarks e dos antiquarks aniquilaram-se mutuamente e transformaram-se em luz. Mas, por cada mil milhões de partículas e antipartículas que se aniquilaram dando origem a mil milhões de fotões, restou exactamente uma partícula de matéria sem nenhuma partícula de antimatéria para destrui-la. É assim que nós existimos, e o nosso corpo é feito de matéria porque a Natureza teve um milésimo de milionésimo de preferência por ela, relativamente à antimatéria. E é por isso que, no Universo dos nossos dias, há mil milhões de partículas de luz por cada partícula de matéria.”

O trabalho do Prof Gustavo Castelo Branco:

“Violação de CP”

Explica em termos científicos este assunto aqui grosseiramente abordado por mim. Explica, ou melhor, tenta explicar, a própria formação do Universo:

- Há uma simetria fundamental, quase exacta, na Natureza e que é a simetria partícula/antipartícula, em que o que varia é a carga eléctrica (+) ou (-) e que é chamada “conjugação de carga” e designada por C.
Depois há uma outra simetria, chamada “simetria de paridade”, designada por P e que é, no dizer do Prof:
“quando você se olha num espelho, vê uma pessoa parecida consigo, mas que não é exactamente igual, pois a parte direita da cara vista no espelho, corresponde à parte esquerda da sua própria cara.
Esta simetria é quase verdade na Natureza, mas é um pouco «violada». O produto CP pensava-se que não era violado, mas é.
Esta pequena violação da Natureza, isto é, a partícula "a mais" (há físicos que lhe chamam “a partícula de Deus”) é que fez com que o Universo pudesse ter matéria e, portanto, eu pudesse estar aqui a escrever.” (esta citação não é cópia integral das palavras do Prof)

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(Este artigo baseou-se numa entrevista ao Prof Gustavo Castelo Branco feita por Luís Pedro Cabral e com uma foto de Jorge Paula, publicada no suplemento “Domingo” do jornal “Correio da manhã”, de 07 de Maio de 2006.
Digo “baseou-se”, porquanto aproveitei a ideia, a foto e alguns elementos, nomeadamente os biográficos e citações do entrevistado.)

segunda-feira, maio 8

Analu

Ana de Sousa ("analu"), cujo blog era muito apreciado e que se encontra nos nossos links sob a referência "analu", publicou recentemente o seu primeiro livro, "Fragmentos" - Livro I, numa nova editora: "intensidez" ( http://www.intensidez.com) nascida da sua iniciativa (julgo).

É desse livro, com dedicatória que agradeço, o seguinte texto:

“hoje fico contigo
a ouvir o deslizante sibilar do indefeso querer
ecos de luz fosca e de insuspeita penumbra,
que, na ponta dos meus dedos, percorrem o suspiro dos umbrais da noite.

na janela aberta o corpo respira a desordem e a inquietude dos acordes que
erguem o grito
ou o medo
de precocemente despontar das amarras orgânicas do sono.

fico.
para não deixar vazio e despido de senso o corpo,
sem nome e sem cor o oceano, em que, na espera, naufraga.

fico,
espanto a solidão das asas, que em exauridas investidas,
se quebram nas vidraças
e chamo à casa o amor, ou o desamor embarcado,
para que, nas tripulações exaustas, encontre por fim apaziguamento.

hoje fico.
e sinto na pele a crepitação das cinzas que jazem rente ao sonho."

Ministros

Numa reunião com o presidente da Suíça, o 1º Ministro português apresentou-lhe os seus ministros :

- Este é o Ministro da Saúde, este é o ministro dos Negócios Estrangeiros, este é o Ministro da Educação, este é o Ministro da Justiça, este é o Ministro das Finanças... etc.

Chegou a vez do Presidente da Suíça:
- Este é o Ministro da Saúde, este é o Ministro dos Desportos, este é o da Educação, este o da Marinha...

Nessa altura o nosso Ministro começa a rir:

- Ha! Ha! Ha! Para que é que vocês têm um Ministro da Marinha, se o vosso país não tem mar?

O Presidente da Suíça então responde :

- Não seja inconveniente, que quando você apresentou os Ministros da Educação, da Justiça e da Saúde, eu também não me ri.

sábado, maio 6

Medicamentos


Nos primeiros 3 meses do corrente ano foram entregues nas farmácias, por terem expirado o prazo de validade, 154 toneladas (!) de medicamentos.

Em Março a venda de medicamentos cifrou-se em 222,5 milhões de Euros, ou seja: mais 20% do que no mês anterior.

A maior parte dessa verba foi suportada pelo Estado, ou seja, por todos nós os que pagamos impostos porque, como todos sabemos, estes são pagos por quem não pode fugir a esse dever, ou seja: os trabalhadores por conta de outrem. As fugas continuam, embora em menor escala, convenhamos, porque é difícil controlar as receitas das chamadas profissões liberais e os grandes capitalistas têm técnicos especializados que lhes permitem "contornar" o problema.

Mas se os remédios (o nosso dinheiro) foram para o lixo, é porque:

- Os doentes não os tomaram.
- Os médicos receitaram em demasia (?)
- As embalagens são demasiado grandes e aqui deveria haver normas bem explícitas que proibissem o fabrico para venda ao público de embalagens grandes. Na maior parte das vezes, as embalagens dos remédios receitados pelos médicos não são inteiramente consumidas e isso segundo indicações dos próprios médicos.

O SNS é um Serviço inestimável, uma conquista que todos deveremos lutar para preservar, mas contra o qual se movimentam interesses económicos poderosos. Tudo o que for feito para poupar os gastos com a saúde traduzir-se-á forçosamente numa disponibilidade de verbas para utilizar na sua melhoria.

quinta-feira, maio 4

Prazeres

(foto AquiVouSerFeliz -Paulo César)
Peguei na guitarra e enquanto tangia as cordas em busca dos acordes certos, consonantes com a tua voz, que aprendi a conhecer, deixei as palavras soltarem-se em mil desejos, em mil fantasias de passeios na areia molhada pelo mar que me sussurra segredos sobre sorrisos e cabelos livres ao vento.
E o prazer de me deitar, exausto, por ter voado nos teus braços, preso pelos teus beijos, devolveu-me o sossego e a luz que me guia em cada dia.

terça-feira, maio 2

Outras paragens...




"solitude"
geoffrey oryema (uganda)
album "exile" 1990