sexta-feira, fevereiro 25

Reféns da clientela

“O populismo é geralmente mau conselheiro em momentos de crise. E o ataque cerrado a todos os que ganham mais, como se aí estivesse a origem de todas as desgraças, é apenas um dos seus mais generalizados sintomas.
Contudo, a aliança entre PS e PSD contra qualquer iniciativa parlamentar para introduzir limites de razoabilidade à remuneração de gestores públicos não pode ser vista como saudável recusa liminar do populismo. É, tão só, o reflexo de como os dois partidos do “centrão” estão literalmente reféns da sua rede clientelar.
Argumentar com a necessidade de “atrair os melhores num mercado concorrencial” quando se trata, sobretudo e/ou quase sempre, de remunerar boys recrutados para gerir empresas que agem em monopólio (ou quase!) ou, simplesmente, se afundam em prejuízos não é mais do que tentar tapar o sol com a peneira.
E se o argumento vale para as empresas, como não aplicá-lo a gestores da própria administração, todos eles forçados a cortes radicais dos respectivos salários?
Se dúvidas existissem sobre a bondade da argumentação ela ficou, ontem, bem à vista, em mais um exemplo do descalabro de gestão do sector empresarial do Estado. Ficámos a saber pela Comunicação Social que na Rede Eléctrica Nacional, uma das tais empresas públicas a reclamar excelência de gestão, foram, nos últimos tempos, “contratados” oito novos directores. Alguns já este mês e com remuneração superior à do Presidente da República. Pagos com os nossos impostos. Ao mesmo tempo que os trabalhadores, que denunciavam a situação, reduziram
os seus salários.
Os mercados também sabem estas pequenas histórias e sabem que, neste momento, o que se impunha era uma solução à espanhola, com uma drástica redução dos quadros dirigentes do sector público e respectivas remunerações.”

( Graça Franco in “página1)

quarta-feira, fevereiro 23

Como é possível não estarmos em crise?

Como diz Sócrates, é difícil cortar nas despesas públicas...
Nota-se...
Acabámos de ver alguns exemplos num e-mail que recebemos:
- Fornecimento a um município de 1 fotocopiadora do tipo IRC3080, para a Divisão de obras Municipais: 6.572.983,00€
Este contrato público é um dos mais vergonhosos. Uma fotocopiadora que custa normalmente 7.698,42€ foi comprada por mais de 6,5 milhões de Euros. E ninguém vai preso por porcarias como estas?

Para onde vai este país? No tempo do Salazar estes assuntos circulavam, às escondidas, contados nas mesas dos cafés. Agora é por e-mails. Não sei se é verdade. As autoridades que averiguem e esclareçam.

(continua, ou melhor,continuamos a pagar)

domingo, fevereiro 20

Será?

“- Será que vale a pena pertencer a uma União que serve de veículo aos interesses estratégicos do seu estado mais poderoso?
- Será que vale a pena pertencer a uma União que colocou o estado português (como outros) na mão dos mercados financeiros?
- Será que vale a pena pertencer a uma União que desde 1992 tem responsabilidades gravíssimas na distorção da nossa estrutura produtiva e não nos dá quaisquer perspectivas de progresso?
- Será que poderemos ter futuro numa União que reduz para níveis inimagináveis ainda há poucos anos e sem paralelo em estados fora da União, a nossa autonomia política?

Por mim, tenho cada vez mais dificuldade em responder afirmativamente a estas questões.”

(João Ferreira do Amaral, economista, in”página1” de 18FEV2011)